Ascensão ao Pico Paraná via face leste do Ibitirati com quase 2mil metros de desnível.
Sábado as 05h eu e o Elcio
partíamos buscar o Jurandir que havia vindo de Paranaguá para encarar a
travessia. Ao chegar no hotel em que ele estava hospedado descobrimos que havia
virado a noite na balada, ia encarar a travessia sem ter dormido.
Partindo em direção ao Bairro
Alto – Antonina via Estrada da Graciosa logo nos deparávamos com uma visão
espetacular do Conjunto Marumby, uma Lua Cheia enorme sobre ele, perdemos
vários minutos fotografando aquele visual. Prosseguindo viagem mais algumas
paradas, a cada km rodado mais visual espetacular, quando não era o Marumby com
sua Lua era o visual do nosso destino, isso sem contar que os Agudos (Cotia e
Cia) e o Velho Ranzinza (Ciririca) também dava o ar da graça.
Lua Cheia sobre o Marumby
Ciririca ao Agudo da Cotia
Pico Paraná (esquerda) e a crista da face Leste do Ibitirati.
Chegando na Fazenda Lírio do
Vale, verificamos e conferimos todos os apetrechos e logo partíamos encarar o
Jacutinga (1100m), saindo a exatamente 08:00h.
Elcio e Jurandir na barragem no final dos duto da trilha.
Saímos da estrada da fazenda e
seguimos a trilha que nos levaria ao nosso primeiro objetivo, de início seguindo
alguns dutos, até então trilha tranquila, porem ela se mostra um pouco
complexa, quase não possui marcação e várias roubadas ao longo do percurso. O
calor e o pouco ar circulando entre a vegetação dificultava também a nossa, mas
essa dificuldade era recompensada com o visual de algumas montanhas,
principalmente do Ferraria e do nosso destino, a face leste do PP, este visto
pouco antes do cume do Jacutinga, após algumas seções de fotos iriamos ao
descanso merecido no cume.
Pico Paraná e face Leste do Ibitirati visto do Jacutinga.
No final das contas, o
merecido descanso no Jacutinga havia se tornado um verdadeiro ataque de quati,
com o calor que fazia estando em um cume sombreado a vontade que dava era de
ficar por ali mesmo. Em outras investidas passando por esse morro já haviam
alertado sobre o aconchego do lugar, tanto que mencionaram que o nome desta
montanha deveria ser Quati, Preguiça e não Jacutinga, tudo isso devido ao
estado dos montanhistas ficam ao chegar ali.
Após um descanso merecido e como
tínhamos um objetivo maior demos um chega para lá nos quatis e tocávamos em
direção ao Ibitirati.
Traçamos a rota e nos
enfiávamos nas quiçaças que já era previsto, em alguns pontos mais estratégico
íamos marcando o caminho com fita, pois a ideia inicial era voltar pelo mesmo
caminho. Entre quiçaças e algumas pirambeira a preocupação agora era encontrar
água, prevíamos que no vale entre as duas montanhas encontraríamos algum rio,
mas até lá teria chão para percorrer.
Íamos revezando a dianteira do
percurso, assim evitaríamos cansaço extremo de ir uma única pessoa a frente. Mais
algum tempo depois chegaríamos no colo entre o
Jacutinga e o Conjunto do Pico Paraná e em seguida encontraríamos um
filete de água suficiente para nos reabastecer e seguir o percurso até chegar
ao rio e iniciar a subida do Ibitirati.
Colo entre o Jacutinga e Ibitirati.
A subida pela face leste do
Ibitirati se deu bastante complexa, em certos trechos a inclinação era tanto
que quase usávamos as unhas para vencer a pirambeira, e foi assim até o cair da
noite e nestas horas como seria improvável encontrar algum lugar plano para
bivacar resolvemos nos aconchegar ao lado de umas árvores no paredão mesmo. A
inclinação do local passava dos 50° , assim batizamos o local de bivac cabide,
pois dormiríamos praticamente pendurado.
Bivac Cabide (detalhe na rede feito de saco de açúcar)
Na tentativa de conseguir
ficar confortável passei a corda entre as árvores e joguei a mochila por baixo
do isolante ficando elevado as pernas na hora de dormir, Elcio se acomodou como
pode em um canto e o Jurandir, este sem comentário, puxou um saco de açúcar e
comentou que iria fazer uma rede de dormir. Na hora caímos na risada, falamos
que iria se arrebentar e descer rolando toda a pirambeira abaixo. No fim das
contas quem riu por último foi ele, não é que a ideia da rede funcionou.
Funcionou tão bem que foi o único que realmente conseguiu dormir bem naquela interminável
noite, não só por não estar dormindo inclinado como pelo fato de não ter
dormindo a noite anterior quando virou a madrugada na balada.
Jacutinga visto do Bivac Cabide
A noite se mostrava com um
visual incrível, a Lua totalmente vermelha e o céu completamente estrelado,
durante a longa noite eram possíveis avistar algumas estrelas cadentes. O
amanhecer também foi surpreendente e logo estaríamos em pé para continuar a
longa jornada.
A pernada não continuava nada
fácil, o pior de tudo, é que nos primeiros 10m de caminhada encontraríamos
lugar plaino que seria perfeito para pernoitar, mas como adivinhar que
acharíamos aquele lugar um dia antes.
O calor começava a nos
castigar e o consumo de água aumentar, o problema agora seria encontrar mais
água, nesta altura estávamos racionando o que tínhamos. Após um período de
caminhada chegaríamos a parede 70, (nome recebido devido as marcas gravada na
rocha) próximo a ele escorria uma água boa, porem escorria bem em uma
pirambeira que dificultava muito para captar, até para passar por ele devia
tomar certo cuidado, pois um deslize iria rolar praticamente no colo do
Jacutinga. Como a dificuldade não compensava o risco, passamos batido pela água
caminhando rente a parede até que em certa altura demos de cara com um
penhasco, a ideia era então voltar alguns metros e tentar contornar por baixo,
porem Jurandir achou uma saída escalando uma pirambeira. Neste trecho o agarra
mato não era nada confiável, principalmente devido ao desgaste da primeira
escalada, o jeito foi passar a corda ao Jurandir para que ancorasse
a corda em uma árvore para que pudéssemos subir.
Parede 70
Vencido esta parede restava
tocar a diante, o tempo todo a vegetação castigava nós, não podíamos elogiar um
único momento que o caminho estava bom que em seguida piorava. Quando achávamos
que não iria piorar vinha o pior, estávamos completamente sem água e única
garantia que tínhamos de nos abastecer era o A2, mas até chegar neste ponto
teríamos muito chão.
A vontade de completar a missão
falava mais alto, quando menos percebíamos estávamos em um platô com visual
espetacular e o cansaço e a sede eram facilmente esquecidos.
Reta final na subida ao Ibitirati
Depois de um breve intervalo
para repor as energias continuávamos a pernada rumo ao Ibitirati, agora não
faltava muito, porem esta etapa final se mostrava impiedoso, vegetação ruim que
bloqueava a nossa passagem de cima em baixo, quiçaça que iria persistir até o
final da trilha, alivio mesmo foi quando deparamos com a trilha do Ibitirati,
agora era só seguir aquela avenida sem dificuldade.
Com a trilha sem obstáculos
logo vencíamos o Pico União e rapidamente chegaríamos ao Pico Paraná,
finalmente concluído a travessia. Deixamos o registro no que sobrou do livro e
tocávamos ao A2 nos reabastecer com água. Chegando lá quase secamos a fonte de
tantos que bebemos daquele néctar da montanha.
Cume do Pico Paraná
Fazendo breve descanso
notaríamos o descaso com a montanha, muito lixo e papel higiênico jogado em
todas as partes, desde o cume do PP até o A2. Enquanto Elcio fazia algumas
ligações para tratar do resgate da tripp Jurandir retirava o que podia do lixo,
atitude que acredito que foi agradecido pela montanha, pois ele neste ato
achava um fogareiro novo, praticamente zerado e de quebra com carga completa.
Com a boa notícia do Elcio que
seu irmão iria nos resgatar no posto do Tio Doca caminhávamos agora de forma
mais tranquila apesar da exaustão das quiçaças enfrentadas anteriormente.
Chegando próximo ao A1 identificávamos dois
possíveis farofeiros, estando de frente a eles isto se confirmaria, dois
indivíduos achando que estava na época de São João, arrancavam vegetação
nativa, principalmente caratuvas e preparavam uma fogueira enorme.
Mesmo sendo alertado,
orientado de que aquilo não poderia se fazer com tom irônico veio a teimosia
que aquela região não pertencia ao Parque Estadual do Pico Paraná e muitos
outros bla bla bla, o que nos restou foi engrossar o tom da conversa. Não
sabemos se de fato resolveu, porem até onde víamos não teve sinal de luz de
fogueira nem fumaça ao longo do trajeto.
O final da trilha era
percorrido rapidamente, logo chegaríamos aos campos do Getúlio e não demoraria
muito estávamos cruzando a fazenda Pico Paraná a exatamente 20:00h. Só nós
restávamos agora vencer a estrada até o resgate, durante a caminhada logo os
dois tomavam a dianteira e sumiam na escuridão, só sabia que não estavam muito
longe pelo latido dos cachorros nas casas da região.
Entre uma curva e outra na penumbra
da estrada avistava a dupla em um bar repondo as energias com uma água da serra
sabor abacaxi, o jeito era se chegar também e saciar a sede.
Não demoramos muito no bar e
seguimos o trajeto a todo vapor, aquele refrigerante havia nos entorpecido de
açúcar e dado uma energia extra para continuar a pernada até a reta final.
Durante o percurso na estrada
víamos a Lua iluminar algumas montanhas ao fundo, visão perfeita para o termino
da travessia, tão animador quanto isso foi avistar a rodovia e o posto do Tio
Doca, agora era só cruzar a passarela e ir de encontro ao nosso resgate pelo
nosso grande amigo Elton Neide.
Com a travessia concluída no
total de 23km percorrido agora íamos embora para o merecido descanso, porém
ainda com algum trabalho para o próximo dia, Jurandir ainda teria que voltar
embora a Paranaguá, iria pegar carona com o Élcio, pois ele ainda voltaria a
resgatar o carro que havia ficado estacionado na Fazenda no Bairro Alto –
Antonina.
Percurso da Travessia Pico Paraná
Texto: Raffael Galápagos
Fotos: Elcio Douglas / Raffael Galápagos
Simplesmente show de bola !! Parabéns pela aventura !!!
ResponderExcluirBoa tarde podem mandar a trilha salva em algum aplicativo
ResponderExcluirjonathanmaciel87@gmail.com
Não existe trilha lá, foi varando mato no peito a empreitada. abcs.
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