Na terça feira dia 07/06
chegava a mensagem vinda do Élcio que a ideia de consolidar a trilha da
Interagudos estava tomando forma, era só o tempo se manter firme como nos
últimos dias que estaríamos em direção a Serra do Mar para amassar mato. Ideia
inicial seria via Fazenda do Bolinha pelo Camapuã e Tucum, porem frente ao frio
intenso que fazia no dia mudamos o plano, iniciaríamos a caminhada no bairro
Terra Boa até o Itapiroca, por lá iriamos bivacar e seguir a diante a
caminhada, evitando assim pegar campo aberto no Camapuã.
Tomada esta decisão nosso
amigo Fabio Sieg se prontificou na ajuda com a logística, ajuda super
bem-vinda, pois ganharíamos tempo e não precisaríamos acelerar o passo devido a
horário de ônibus.
Com horário marcado as 20h de
sexta feira para o encontro encontrávamos o Fábio com sua namorada Ligia, agora
só restava a presença do Israel, que não se demorou muito para chegar. Com a
trupe reunida, se amontoarmos no carro partiríamos em direção ao início da
nossa jornada.
Inicio da jornada (Fazenda Rio das Pedras)
Inicio da jornada (Fazenda Rio das Pedras)
Chegando na fazenda decidimos
parar em frente ao Rio das Pedras onde rapidamente éramos seguidos por um vulto
que se escondiam protegido pela escuridão da noite, sabíamos que aquele vulto
pertencia ao Gollum da fazenda ao lado, porem ele não fazia a mínima ideia que
observava o Senhor dos Agudos, que se preparavam para mais uma empreitada
naquela região. Ao conduzirmos a luz das lanternas em sua direção ele se afugentou
para as sombras ao local de onde nunca devia ter saído.
Exatamente as 21:50h
iniciávamos nossa jornada, apesar do frio o céu limpo apresentava um belo
espetáculo e logo chegaríamos ao cume do Itapiroca, e lá percebia formação de
gelo na vegetação, neste momento resolvemos passar reto pelo cume sem assinar o
caderno e encontrar algum bosque para pernoitar. Tocamos mais adiante do que o
previsto, assim ganharíamos mais tempo no dia seguinte em direção ao Cerro
Verde. Mesmo protegido pelas árvores a noite foi longa, enquanto os companheiros
da tripp aparentemente apagavam como uma rocha eu custava a dormir, resultado
disto foi uma noite longa de olhos abertos.
Aos primeiros sinais do Cara
Amarela (Sol) saíamos dos casulos e retomávamos a trilha rumo ao Cerro Verde
apreciando o visual imponente do Pico Paraná que se mostrava por inteiro, sem
uma única nuvem para cobrir suas vergonhas como faz de costume em outras épocas
do ano.
Pico Paraná visto durante travessia da consolidação da Interagudos
Ao chegar no cume do Cerro
Verde fazíamos rapidamente o registro no caderno e acessaríamos a Variante
Mandela, trilha aberta em 2013, onde cruzaríamos pelo Pico Meia Lua até chegar
ao Luar, desta íamos em direção ao Siri.
Visão do Meia Lua, montanha entre Cerro Verde e Luar, acessada pela Variante Mandela. Destaque para o Taquaripoca pouco abaixo do Cerro Verde.
Pico Paraná e Tupipia visto do Meia Lua.
Chegando ao Siri era hora de
sacar os facões onde iniciaríamos uma nova rota até a trilha do Ciririca,
próximo do Última Chance, livrando assim de passar por aquele rio cabuloso, que
até então era a única opção para quem estava no Siri. Com traçado já desenhado no GPS pelo Élcio,
não foi difícil ganhar terreno, parte do trajeto caminhávamos por campos de
altitude e o trecho de mata fechada foi rapidamente vencida pelo trio de
loucos.
Realizando um breve descanso
no Última Chance, um grupo de corredores de montanha surgiam vindo do Tucum,
após uma breve prosa eles tomavam a dianteira ao Ciririca e nós logo fazíamos o
mesmo para ganhar o máximo de terreno possível.
No cume do véio ranzinza
(Ciririca) também fomos breve, pois sabíamos que a descida dele não é uma das
mais agradáveis.
Uma das placas do Ciririca.
Caderno de Registro do Ciririca.
Com a trilha enlameada escorregávamos e afundávamos os pés sem
poder fazer muita coisa e assim se procedeu até chegar na bifurcação com o
Agudo Lontra. No momento em que chegávamos nesta bifurcação já sabíamos que
teríamos poucos minutos de luz do dia. Rapidamente subíamos o Lontra com vento
cortante nos rostos, para ajudar muitos caminhos de rato naquela subida, fruto
de algum grupo perdido tentando achar a caixa de cume.
Com o frio intenso no cume do
Agudo Lontra e a escuridão predominando resolvemos tocar direto há uma canaleta
próximo da Colina Verde para bivacar ao invés de pernoitar no Agudo da Cotia,
com terreno plano e água próximo esta canaleta caiu como uma luva para o
descanso e tirar o atraso do sono da noite passada.
Agudo da Cotia visto do Lontra.
Abrigados do vento frio,
Israel se propõem a fazer uma macarronada para repormos as energias.
Macarronada que resultou em algumas risadas no início do preparo quando vimos a
panela transbordada de macarrão e ele falando que assentaria na fervura,
brincadeiras à parte, o jantar veio de bom agrado a nós e como se não fosse
suficiente, ele ainda iria lavar a louça enquanto estávamos quase hibernando nos
sacos de dormir, afim de preparar chá na manhã seguinte antes do ataque ao
Agudo da Cotia.
Como de se esperar
presenciávamos mais gelo na vegetação, mas a caminhada ao cume do Cotia
esquentava o corpo deixando agradável a caminhada até ele. Cada vez mais curtíamos
o visual da região, o céu limpo deixava nós instigado a concluir a travessia.
Energia para isso não faltava em nós, principalmente ao Israel, que durante a
descida do Agudo da Cotia tropeçou em algo e levou um tombo, só que não foi um
tombo qualquer, foi algo cinematográfico, bem ao estilo ninja Jiraya, ao mesmo
tempo em que caia ele virou o corpo e numa espécie de mortal girou o corpo no
ar caindo com a proteção da mochila, e como se não fosse bastante a cena, ele
se levanta e saia cantando uma música do Lulu Santos. Diante destes fatos quem
quase rolou montanha abaixo foi eu e o Élcio, mas rolando de tanto rir desta
cena épica.
Geada no Agudo da Cotia.
Caderno de Registro do Agudo da Cotia.
Já na base do Agudo da Cotia
era hora de tirar os facões da bainha e iniciar o trabalho rumo ao Agudo Cuíca,
o começo foi tranquilo, enquanto eu seguia o rastro da primeira passada da
Interagudos ano passado e amassava o mato com o corpo os colegas vinham com
facão limpando o caminho, mas não demorou muito sacávamos o terceiro facão e
todos investiam na abertura do caminho.
Rumo ao Agudo Cuíca.
Israel e seu facão.
Após o Aguíca, nome dado ao
ponto de água entre os Agudos, enfrentaríamos novamente o mar de caraguatá,
desta vez foi mais fácil enfrentar aquelas lâminas Orcs, mesmo com esta
facilidade ainda sim sairíamos com alguns cortes pelo corpo, até parece brincadeira,
mas esta vegetação costuma se vingar de quem o desafia. Saindo deste mar de
navalha chegaríamos em campos de altitude e apreciaríamos o paredão imponente
do Agudo da Cotia e pouco mais acima abríamos um mirante com visão de tirar o
folego. Após algumas fotos para não perder o costume, já no topo, pouco antes
da caixa de cume, ainda enfrentaríamos uma vegetação ruim que deixava pouco
espaço para passagem, mas que com pouco de esforço foi vencida sem maiores
problemas.
Visão a partir do Mirante do Agudo Cuíca.
Cume do Agudo Cuíca com Ciririca ao fundo.
Registro no Caderno do Cuíca.
Gralha Azul - Cume nos fundos do Tangará.
Gralha Azul a esquerda e Pico Tangará a direita visto do Agudo Cuíca.
Após um breve descanso no cume do Cuíca era hora de pensar
sobre o caminho a ser seguido até a Garganta 235. Cogitou-se de ir pela crista
da montanha até o Rio Forquilha, porém, como haveria algumas subidas e mata
fechada não sabendo exatamente o que iriamos encontrar, podendo perder tempo
precioso, escolhemos a segunda opção que também não era muito agradável, essa segunda
opção se chamava Rio Xexelento. Este rio não é dos mais agradável para caminhar
porem percorremos ele na 1ª Interagudos e sobrevivemos para repetir a dose
naquelas quiçaças e gretas medonha. Durante ao percurso no Xexelento tentamos
caminhar pela margem do rio se distanciando a um certo ponto a fim de evitar as
quiçaças, custamos muito a encontrar um trecho bom para caminhar, pois toda
região lá é virada nos avessos.
Após um tempo caminhando
naquele purgatório chegávamos ao Rio Forquilha, agora sabíamos que a caminhada
seria mais agradável e não tão cansativa. Caminhando pelo Forquilha, em um
trecho que é possível dizer que fica entre o nada e lugar algum, recolhemos
lixo de algum farofeiro que resolveu marcar caminho com garrafa de cerveja,
primeira coisa que passa na cabeça neste instante é que se com toda marcação de
fita naquela região não é suficiente para se localizar, o que uma pessoa dessa
foi fazer naquelas bandas.
Um dos resíduos coletado no rio Forquilha
Com a caminhada rendendo
chegávamos a Garganta 235, hora de tentar contato com Fábio para avisar que
haveria atraso na chegada do Marco 22. Mensagem enviada e recebido o “ok” de
Fabio faríamos o registro de nossa presença no caderno e prosseguíamos ao
destino final.
Garganta 235.
Não tardava muito logo a
escuridão predominava na mata e a situação não ficava muito agradável, mesmo
conhecendo a região de ponta a ponta tivemos alguns contratempos, muitas
árvores caídas sobre a trilha e como se não fosse suficiente alguns caminhos de
rato ao redor. Estes obstáculos eram vencidos até que rapidamente porem era um
atrás do outro e isto atrasaria um pouco mais o fim de nossa jornada.
Chegando mais próximo da
Graciosa escutávamos sinal de buzina, era o Fábio tentando contato imediato com
nós e logo ele escutava nossos gritos, que por sinal afugentava alguns animais
que estavam por perto.
Finalmente chegando no Marco
22 por volta das 23h com o fim da travessia uma surpresa extra, Fabio e a Ligia
haviam levado pizza para nós, melhor sensação do sucesso de realizar uma
travessia é terminar ela e ser recepcionado com pizza.
Como se não fosse suficiente, além
da ajuda com toda a logística e a pizza, ainda a carona se estendia até nossas
casas onde conforto nos aguardava.
Texto: Raffael Galápagos
Fotos: Élcio Douglas / Fabio Sieg / Raffael Galápagos
Agradecimentos ao Fábio Sieg e Ligia Maria pela logística.